A grande panelada na Brazolandia.

Christo Rio de Janeiro – Pixabay CC 0 

Uma paródia satírica dos últimos trinta anos em uma república das bananas chamada Brazolandia.
De Noel Nascimento
Houve um período nas chamadas republicas das bananas da América Latina, em que, grande parte delas, saídas de ditaduras militares assassinas cujos pretextos eram o combate ao perigo do comunismo, as idéias que poderiam ser chamadas de esquerda ou centro esquerda se aglutinaram. Típico de todo período de repressão o descaso com os clamores justos vindos de esferas da sociedade que eram mal vistas pelo regime só fizeram com que estes clamores aumentassem, pois os motivos que os geravam também aumentaram, a miséria, a pobreza, a fome e o analfabetismo. Reprimir só faz aumentar os problemas, como colocar algo crú em uma panela de pressão ao fogo, depois abrir quando se atingiu a temperatura máxima e tentar comer fervendo. Abriu-se então a panela e o caldo estava pronto. Um indigesto caldo. Mal preparado e com ingredientes estragados, mas na panela continuava ainda crua a buchada, agora fortalecida pelo longo período ao fogo lento. Havia partes onde mesmo com fogo e temperatura escaldante, haviam crescido vermes e bicheiras. As sociedades eram as panelas, mantidas por cozinheiros burros, avarentos e pretensiosos, que enquanto cozinhavam dividiam quitutes e iguarias entre os seus.
Abertas as panelas, saíram dela o assado mal feito e nojento, bichos e a água fedorenta e contaminada. Espalharam-se pela cozinha as partes comestíveis e as deterioradas indistintamente. Todas com um clamor verdadeiro. Diziam: fomos cozidos, fervidos, impedidos em nossos direitos e razões justas. E eram em grande maioria razões justas. Além de que, sabia-se que os cozinheiros dominaram a cozinha e a sala de jantar completamente e tinham se banqueteado regaladamente sujando pratos, talheres, pia, banheiros e quartos da casa como porcos da pior espécie. Isto sem falar do que fizeram do quintal e dos pomares ao redor, mal administrados e cheios de obras inúteis que custavam fortunas. Este aliás era um mal que vinha de antes de resolverem por a panela no fogo, da época das grandes construções de castelos no meio do mato, para que pudessem se isolar os governantes quando assumissem o poder. Assim foi especialmente na maior república das bananas, a Brazolandia.
Quando abriram as panelas sairam delas alguns fritados e voltaram outros que haviam conseguido fugir à grande panelada antes que prendessem todos os que se pretendia cozinhar. Dentre estes alguns remanescentes de períodos conturbados anteriores, de tendencia à esquerda algo nacionalista. Os que saíram da panela acusavam um destes, cujo nome era o mais forte, de ser um velho caudilho, e queriam o seu que fora cozido em uma panela, a qualquer custo. O que viera do exílio dizia: quero encher a Brazolandia de escolas básicas, integrais por toda parte, em todas as favelas e bairros pobres, quero dez mil delas em um prazo de poucos anos, funcionando integralmente, ensinando, alimentando, ensinando jogos, brincando, durante todo o dia, levando idéias para casa, envolvendo os pais, gente humilde sem condições. E eram aconselhados por um conhecido e reputado filósofo e antropólogo chamado Darcy do Riacho. Tudo isto era suspeito aos cozidos nas panelas, que diziam: ele quer crias e ovelhas para depois mandar.
Ninguém sabia o quanto os cozinhados nas panelas eram já capazes de minar e se virar sob forte pressão, coisa lógica no entanto. Após negarem uma proposta de aliança de parte do exilado, pela qual seu líder do sindicato dos cozidos poderia ser vice presidente, aceitaram secretamente a proposta da maior rede de televisão, a conhecida Goberda, que há muito já vinha educando o povo com seus programas dominicais evangélicos do pastor Charretes e suas gostosas de biquíni, as famosas punhetetes, conhecidas de todos os adolescentes da época da grande panelada. A rede Goberda tinha seu plano educativo, a paunelada, interinamente dirigida por um tal de Bonorabulis, conhecido pelo apelido Bono, que enquanto alienava quase todos diariamente com novelas bem feitas ao modo „come, bebe e vai dormir, seu trouxa“ preparava para a missa noturna de domingo, chamada de Miserástico, que apresentava o Raul Deixas para os lunáticos ficarem esperando a chegada do discos voadores que estiveram na terra há dez mil anos atrás, depois mostrava as notícias ruins e para apaziguar os animos em seguida um monte de gols. A típica transferência da inteligencia da cabeça para os pés, como dizia antes um músico insignificante chamado Villa-Lobos, da época do presidente Gestúlio, aquele que soubera dar alguma gestão educacional à Brazolandia. Esta gestão foi naturalmente sendo aos poucos demolida pelos cozinheiros e pela Goberda. Cultura para que né? Freud tinha razão, melhor é chacretear o povo para a zona.
Enfim, os cozidos venceram o exilado, não sem fazer a sua caveira de todas as formas possíveis, apontando seus erros e mazelas para sobreviver politicamente, como um pacto com os donos do jogo do bicho, que depois eles mesmos acabaram legalizando e ratificando. Mas enfim, estava empossado o novo génio da política brazoeira, um tipo de mescla de sapo com algum molusco, chamado Sapula. Não se sabe ao certo, mas ouvi dizer que Sapula também tinha descendência ou tendencia islamica sunita,e por isso tinha uma barba que lembrava um combatente do Exército Islamico. Maldades á parte, sempre achei que Sapula era bem intencionado, apesar de muito pretensioso e de achar que podia dominar cobras, assim como Moisés que transformara seus cajados nas ditas cujas do diabo frente ao faraó. Há quem diga que a primeira sílaba do nome de Sapula viesse do fato que seria santo, o que eu, que sempre fui muito incr
édulo, sempre duvidei. Mas logo fui percebendo que tinha de fato o talento inédito de dominar, alimentar e criar cobras, e achava que isto iria funcionar sempre. Eu que sempre soube como terminam essas histórias, não tive outro remédio, se não ficar quieto e ficar torcendo para que desse certo, pelo menos uma vez na história da humanidade. Mas não deu.
Os planos educativos de Sapula começavam por cima, pelo telhado e não pelos alicerces. Achavam que assim logo teriam nas estruturas superiores seus maiores defensores, o que de fato aconteceu. Melhoravam as estruturas das faculdades e universidades, mas não cuidavam do melhoramento da educação básica e fundamental, fazendo com que as universidades acabassem recebendo um grande número de despreparados que no entanto tinham direito de frequentá-las mesmo assim. Isto fazia com que também o nível dos professores se mantivesse o mesmo, dentro de um sistema preguiçoso que insiste em não se reciclar em coisa alguma, e permite comodidade, o que não aconteceria caso a chegada de alunos algo mais bem preparados chegasse aos poucos às universidades, exigindo dos professores uma significante melhora do nível de ensino e verdadeira capacitação, o que não se me de pelo nível de mestrados e doutorados, com títulos de teses que por vezes beiram ao ridículo, o que um amigo que vive na minha casa, que viu de dentro me contou após sair fora, mesmo que o seu setor fosse o mais complicado e difícil, o das artes. Era tudo uma mediocridade só, me diz sempre. E quem tentasse explicar que pode ser diferente, era o capeta. Assim, as estruturas preguiçosas deixadas como herança dos milicos ficaram, e continuam.
Restaram do período de Sapula e sua sucessora, uma mulher chamada Dilmurra, sabidamente honesta mas incapaz de lidar de cobras, o plano de bolsa família, um bem para tantos miseráveis famintos da Brazolandia, incontestavelmente. Este plano fora concebido a bem da verdade pela Dona Chucrute, esposa do antecessor de Sapula, um estadista francês que dizia que nasceu na Brazolandia e depois de seu período na presidência voltou a morar em Paris em um quartinho de subúrbio, com seu harém.
Fora isso, o lógico e incontestável, que as cobras mantidas sob controle acabaram saindo do ninho, cresceram demais, achando que o alimento era pouco. É mais do que evidente. Derrubaram Dilmurra e agora não há comida que chegue. Hipnotizaram juízes, assustaram e intimidaram ao ponto de fazer um promissor talento, que sabidamente já tinha fechado um caso chamado Bonde do Estado, sem condenar ninguém além de espremer umas boas laranjadas pra se justificar. O único de mais alta instancia capaz e com caráter suficiente para dizer que queria todos processados, foi fazer um voo de asa delta e caiu junto com o piloto e uns amigos quando podia ter feito a curta distancia de carro tranquilamente. É típico na Brazolandia que esses corajosos que podem se tornar desagradáveis gostem destes esportes perigosos e acabem morrendo em situações que mais lembram suicídio, e é especialmente sabido que adoram voar de asa delta, se espatifando em muros ou se destroçando no mar.
Mas e as serpentes, afinal, o que acontece com elas? Algumas foram enjauladas para fazer de conta que algo se faz para dominá-las, é claro. É preciso que pensem que é assim. Ora, as serpentes sempre tem algum faquir que as hipnotize com música de compositores suiços ou do mar do Caribe. Estes faquires são hoje conhecidos no mundo moderno como neo-chacais, parentes das hienas, aqueles bichos que comem sempre a merda dos leões. Por enquanto, diz-se, estão tomando conta do mundo. Na presunção de que terão tudo sempre sob controle, brincam com as cobras, sapos, burros e até com leões. Divertem-se e são os novos donos da cozinha, ao que parece. Brincam com sunitas, evangélicos, africanos, chineses, russos, alemães como se os tivessem amarrados em cordões nas pontas dos dedos. Na Brazolandia deixam as cobras se saciarem, depois darão sua sagrada proteção em algum lugar privilegiado. Controlam a revolta dos aficionados de Sapula e a direcionam. Se lhes interessar, o prendem para criar maior revolta e justificar atitudes mais drásticas com o discurso velho de combate ao comunismo, ou simplesmente o impedem de se candidatar, visto que Sapula se transformou para seus adeptos exatamente naquilo que diziam ser seu rival exilado anterior, um caudilho, único e incontestável. Fica a Brazolandia à merce da brincadeira de uma sopa mal cozida e do assado que foi preparado lentamente para que no final somente os chacais se divirtam, já que eles sorriem sempre à distancia e sabem muito bem o que fazem.
Instalou-se entre os seguidores de Sapula um tal vitimismo, causado e gerado intencionalmente para isolá-los, assim como se faz quando se quer limpar a cozinha e tirar fora ingredientes que não servem mais à nova sopa que se deseja cozinhar. E protestam como se fossem voltar à panela, já que se acostumaram somente com Sapula, que saiu dela e está sendo cozinhado de novo, sozinho e sem ingredientes de serralheria, pó de coca cola que vem hoje em dia de helicóptero, e alquimia, que muito mais dariam uma sopa moderna, dos dias atuais. Mas os neo chacais sabem que sem alquimia, drogas e serralheria para fazer compensado, nada mais hoje funciona no mundo.

E Brazolandia continuará sendo e sempre será uma república de bananas, talvez um dia mudando de nome para República das Panelas da Brazolandia. E viverá feliz para sempre. 

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