Quando, como e porque surgiu o neoliberalismo. Há solução?

Thatcher e Bush, 1990 –  Presidential photographer. – George Bush Presidential Library, wikimedia CC 0
O neo-liberalismus surgiu por certos motivos e parece inalterável. Haveria solução para um mecanismo que parece uma trajetória sem fim?
Noel Nascimento – 3 de Junho 2018
Diferenças e particularidades comuns
Todo pais tem suas peculiaridades. Há particularidades internas, como suas riquezas naturais, sua geografia, história e características étnicas. Tudo isto determina um contexto geral que por sua vez acarreta em especificidades que podem ser chamadas e condições próprias. Estas condições determinam muitos outros fatores, como produção, comércio, cultura e mentalidade. Isto é o que se chama de nação, e que identifica os países e seus povos com certas distinções que surgem delas com o passar dos anos. Em sua totalidade tudo isto gera uma forma de parentesco cultural onde se inclui a língua, ou até mais de uma em alguns casos, e o que então através dela fica preservado para reconhecimento de sua sociedade. O tempo e a história também são uma forma de contabilidade, tanto social como econômica, e tudo isto é cultura. Há influencias constantes resultantes da convivência pacífica com outros, ou também o contrário, por imposição. Tanto a convivência pacífica como a imposição podem acontecer de forma cultural, econômica e comercial. Por vezes a imposição também se dá sem a agressão física. Ela pode acontecer de forma econômica e cultural, por infiltração.
No mundo de hoje, mais do que em toda a história da humanidade as culturas se cruzam inevitavelmente pelo comércio e especialmente pelas comunicações, pela busca de informações geradas pela busca de interesses de todos os países, dos povos e também dos indivíduos. No mundo atual o indivíduo ganhou força através das possibilidades de comunicação cada vez mais rápidas e interativas. Mas nem sempre foi assim, e há quem represente interesses aos quais a capacidade de observação, compreensão e interação dos indivíduos não agrade. E assim, procura-se como uma forma de poder oculto, como sempre, manipular as informações para defender os interesses ditos por alguns como maiores. Estes interesses seriam mais importantes e benéficos a todos, se em primeiro lugar forem mais benéficos a apenas alguns, e esta é a ideia que se defende na conjuntura mundial. Ela é a ideia fundamental do neoliberalismo. Poucas pessoas sabem como ela e quando exatamente ela surgiu nem porque.
Atualmente o neoliberalismo é uma politica hegemônica de dominação mundial. Ela começou com Margaret Thatcher no inicio dos anos 80 na Inglaterra. Tratava-se de uma reação à invasão da industria automobilística japonesa e coreana que chegava á Europa com carros bons e baratos como a Matsubaru, por exemplo. Por outro lado visava fortalecer os empresários europeus que ao mesmo tempo perdiam nesta concorrência que chamavam de desleal, automatizavam as fábricas gastando menos. Outra ideia foi financiar pequenos países asiáticos onde a mão de obra era mais barata e levar para lá parte de suas fábricas ou inserir-las na região, criando assim nas proximidades dos competidores outros concorrentes, mesmo que seus produtos não tivessem qualidade comparável á dos europeus e também norte americanos. Entre estes países, estavam a Malásia, Tailândia e surpreendentemente também a China, onde por excesso de mão de obra os preços desta eram irrisórios. O principal „inimigo“ do Ocidente era novamente o Japão, desta feita no plano comercial. Não foram poucos os comentários feitos nas redes de televisão ocidentais contra o „perigo nipónico“ então invadindo e destruindo a indústria ocidental usando as próprias leis liberais do ocidente, e especialmente dos EUA. Na televisão brasileira, vez que o Brasil tem sua economia enormemente dependente dos Estados Unidos, na época ainda maior, não foram raros os comentários do jornalista da TV Globo, Paulo Francis, já quase em tom de deboche e racista sobre os japoneses. Pensava-se até mesmo em embargos em forma de sobretaxação dos produtos japoneses nos Estados Unidos. E foram tomadas medidas neste sentido. Muitas fábricas de eletro eletrônicos foram transferidas para os então denominados tigres asiáticos, especialmente, fazendo forte concorrência aos produtos japoneses do setor.
Assim, a primeira vítima do neo liberalismo se faria logo sentir. Ela foi o Japão. Na primeira metade dos anos noventa o Japão sucumbia à política neoliberal e alardeava ao mundo nível de desemprego que não tinha desde o início do século XX, quando aderira à política de industrialização. Também um outro país, este no hemisfério sul, sentiria esta política. O Brasil, que até então era o maior produtor de eletro eletrônicos do mundo. Com suas particularidades internas e um custo de produção médio, o Brasil não conseguiria enfrentar a invasão de produtos baratos deste setor, e outros chegados da China, bugigangarias baratas até os eletrônicos. No Japão, a tragédia anunciada era também cultural, em um país onde ficar sem trabalho é desonra. Na Alemanha o governo social liberal, que garantia à população direitos sociais idealizados ainda na era imperial por Otto von Bismarck, chamados de leis sociais „bismarkianas“, que foram aprimoradas c
om a estruturação da República Federal da Alemanha, sob a grande coligação do partido social democrata com os conservadores de Konrad Adenauer, o então chanceler Helmuth Schmidt seria substituído por uma nova aliança entre liberais e conservadores, os quais aos poucos planejavam os cortes graduais que fariam aos poucos. Tudo isto acontecia sob fortes campanhas de denúncias de abusos de diversos setores, como dos próprios médicos e dentistas, as quais de fato aconteciam. Mas os cortes aos poucos atingiriam a população, que sem culpa alguma sofreria as consequências.
A massa de desempregados se avolumava na Europa, por causa da transferência de muitas fábricas para a Ásia, e os governos europeus já preparavam sua política para não diminuir os lucros das empresas com os gastos sociais que adviria do desemprego. Suprimia-se ou se diminuiria os gastos sociais, como seguro desemprego e saúde pública.
Os primeiros efeitos se fizeram já na Inglaterra, onde adolescentes mal cuidados e deixados à sorte de famílias desfavorecidas e de menor instrução randalizavam e se tornavam violentos, surgindo então os hooligans.

As consequências inesperadas

Nas chamadas „leis de mercado“ como os economistas as denominam, há um fundo mais reconhecido como lei natural, que determina que a toda ação resulta em uma reação. Na física ou em biologia ou química as reações podem ser estudadas e observadas para seu efetivo controle e utilização. Em fenômenos sociais não é assim.

A China, lentamente saindo de um isolamento em seu comunismo atroz e autoritário que custara a vida de cinquenta milhões de pessoas durante uma desastrosa e mal sucedida industrialização e na „revolução cultural“ de Mao Tse Tung, agora via no comércio com o Ocidente a possibilidade de melhoria da qualidade de vida de boa parte de seus já atingidos um bilhão de habitantes, naquela época. Aceitava assim de bom grado os investimentos estrangeiros, as fábricas de produtos e componentes, e aproveitava para aprender as técnicas do ocidente. Isto não ficaria somente no aspecto de produção, mas também no econômico e financeiro. Nos dias atuais a China tem em suas mãos setenta por cento da dívida do tesouro norte americano, em uma situação desagradável para os EUA, mas que gerou interdependência entre os países no plano econômico. Com esta ação a China se amarrou à economia americana, fazendo com que, caso o governo norte americano se desvencilhe dela, acabe entrando em uma incontrolável queda de valores e consequente inflação que levaria a uma situação comparável à de da crise de 1922.
Cientes da situação, e com a reação da Rússia de Wladimir Putin a se negar a executar em seu país um plano neoliberal e seguir uma política capitalista nacional, e o surgimento do bloco do BRICS e seu crescimento, este passou a ser entrave à política neoliberal atual, cujos objetivos principais são se livrar das amarras e econômicas chinesas e colocar a velha inimiga de sempre de joelhos, a Rússia.
O mundo atual.
As principais estruturas do poder sao: O poder econômico, ou os bancos e sua política macro-econômica, indústria e o poder bélico ligado a ela, sendo que estes dependem completamente da energia, como do petróleo, e por fim a imprensa e a informação. A estrutura política depende essencialmente das primeiras e não se consolida sem elas. Não necessariamente ela significa hoje uma estrutura de poder determinante, e sim o representa ou defende seus interesses.
Nas condições atuais do mundo neoliberal a democracia é tutelada pelo neoliberalismo, assim portanto sua política é definida por ele nos Estados Unidos da América como em diversos países atrelados, como todos os países europeus também levados á mesma política militar, como a OTAN, ou subjugados a sua estrutura macro-económica social, como diversos países árabes produtores de petróleo ou os subjugados pela força, como o atual Iraque e se intenta fazer com a Síria, gerando um caos internacional e migração consequente como intencional. Esta serve a confundir seus aliados, levando-os a discutir questões superadas ou consideradas hoje de menor importância por suas culturas, como religião, desviando a atenção do insurgente caos social e gerando conflitos entre seus próprios cidadãos.
A política neoliberal é absolutista. Não admite nada que não se submeta a suas leis, como se fossem regras da natureza. A natureza não se controla, e este é o cálculo que não pode ser ser feito por nenhum economista nem matemático. Para uma questão biológica, na qual o homem se insere, e descontrole de um órgão afetado, há três possibilidades de ação efetiva. Na primeira, mata-se o paciente aceitando a doença e sua morte como natural deixando a doença seguir seu curso como uma epidemia que causará a morte de milhões. Na segunda, enfrenta-se a epidemia isolando-se os não contaminados e combatendo os contaminados ou até se fazendo por exterminá-los. E na terceira, digna de seres evoluídos, mais sensíveis e inteligentes, desenvolve-se uma vacina com soro extraído daqueles afetados para enfim conseguir vencer a doença.
Socialmente, pode-se su
perar algo derrotando militarmente, o que pode ser inviável, ou por deposição e luta de classes. Pode-se buscar isolamento, que restringe uma nação a si própria e por vezes a menor capacidade de gerar bens a seu povo. E se pode conseguir uma vacina social retirada do próprio corpo infetado para curá-lo, por sensibilidade e responsabilidade social, respeito pelas diferenças assim como conciliação pelas particularidades comuns. Com estas tres possibilidades nenhum cálculo matemático vem em questão nem se aplica. Nenhum jogo de números e cálculos define o bem estar dos homens, a vida no planeta, e muito menos o valor da vida e o futuro.

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